Sucessão e fazer escola

Certa ocasião, após minha aposentadoria, fui questionado sobre a maior satisfação colhida na minha carreira de professor e pesquisador. Sem titubear, respondi que tinha sido o sentimento da contribuição deixada para o Setor Florestal Brasileiro através dos ex-orientados, hoje respeitáveis profissionais nas áreas de P&D e nas áreas operacionais e administrativas de inúmeras empresas de celulose e papel.

A bem da verdade, acredito que essa sensação deve ser sentida por outros colegas e amigos, tanto no meio acadêmico como empresarial de nosso País, que passaram por essa experiência. Entendemos que o processo de formação e treinamento de pessoas pode estar ligado, de um lado, a um plano de carreira ou, de outro lado, com o fazer escola.

No primeiro caso, o plano de sucessão, nos dias de hoje, pode ser entendido como imprescindível à sobrevivência das empresas, ou seja, um planejamento estratégico de recursos humanos. Por outro lado, uma garantia de que a empresa continue inovadora e competitiva. Alguns estudiosos do assunto afirmam que esse tipo programado de sucessão, em última análise, é uma “reinvenção da empresa”. O processo em si não é tão simples, primeiro pela diversidade de situações e tipos de empresas.

As saídas mais usuais têm sido a escolha entre diferentes candidatos, indicação de um sucessor familiar ligado ou não ao sócio majoritário ou criação de um conselho de administração, no qual o líder que se afasta mantém algum tipo de controle e supervisão. Quando a expectativa é de que a sucessão ocorra graças ao planejamento do executivo que deverá deixar o cargo, por promoção ou troca de empresa, parte das vezes ela se frustra por individualismo, receio de concorrência, falta de compromisso com o futuro ou falta de profissionalismo.

Os mais conscientes montam uma equipe que dialoga sobre as normas e procedimentos da empresa, colaboram com a sua divulgação ampla e irrestrita e compartilham todo o conhecimento gerado. Dessa maneira, a preocupação com a sucessão deve estar ligada à atividade diária do executivo e não somente quando cobrado pela alta direção da empresa. Inclusive porque se foi o tempo da percepção enganosa de que se é insubstituível.

Da mesma forma, é importante não se prender a um único possível sucessor (mais tempo de cargo ou conhecimento técnico), pois os fatores ligados à liderança são fundamentais. Como consequência, o grande segredo é dar espaço a todos os eventuais candidatos, pois, do embate interpares, é possível avaliá-los em diferentes situações além do dia a dia de cada um. O fazer escola tem um sentido mais amplo que a sucessão anteriormente exposta.

Seu aporte é mais filosófico, chegando a questionar e a alterar, construtivamente, a visão e mesmo a missão de dada empresa ou entidade. Filosófica porque traz novas maneiras de encarar desafios e ampliar horizontes. Obviamente, essa situação se aplica ao setor empresarial, porém, com mais frequência, ocorre no meio acadêmico e de P&D.

Nessas condições, são maiores as oportunidades para o exercício da criatividade e da liderança situacional. Obviamente também, o ambiente de trabalho é mais informal, e a hierarquia é respeitada não como uma obrigação, sobrevivência ou segundo as normas vigentes, mas como respeito e reconhecimento.

O sentido de equipe tem que ser despertado e constantemente realimentado, dada a natural rotatividade que ocorre. Um ponto a não ser perdido de vista é que essa ação, na maioria das vezes, ocorre envolvendo voluntários, como estagiários, bolsistas e similares. Apesar de possível retribuição financeira, não há um esquema rígido de trabalho, e a carga horária é compartilhada com outras atividades, talvez mais prioritárias, como escolares.

Dessa maneira, a maior ou menor dedicação será resultado da motivação para o trabalho no presente e relacionadas perspectivas profissionais para o futuro. Numa situação especial como essa, minha experiência acadêmica e pessoal permite a conclusão de que o sucesso do trabalho em equipe como garantia do “fazer escola” e formar sucessores se baseia em três palavras: fé, dedicação e entusiasmo.

Fé: confunde-se com crença, esperança, desejo, ideal, sonho e outros sentimentos inerentes ao ser humano. Dedicação: confunde-se com determinação, esforço, garra e outros sentimentos não tão difundidos nos dias atuais. Entusiasmo: confunde-se com vibração, euforia, júbilo, ardor, paixão e outros sentimentos inatos a muitos ou adquiridos, mercê de uma decisão ou propósito pessoal.


 
 

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