CONSCIENTIZAÇÃO
ROTÁRIA
Na literatura rotária, com relativa freqüência, o
Rotary é considerado como uma escola e, como tal, ensina, educa e conscientiza.
Ensinar e aprender são
ações inerentes aos seres vivos, não só
os humanos, pois crescemos e nos desenvolvemos baseados em aprendizados. São
atos tão naturais que é clássica a frase : "vivendo e aprendendo...".
No Rotary essa ação é
conhecida, na sua visão mais simplista, como Informação Rotária.
Educar é uma
transmissão de conhecimentos, experiências e valores. Tem como alicerce o
"ensinar" mas resulta numa assimilação e exercício do aprendido. Por
exemplo, a Prova Quádrupla é aprendida ( e até decorada) como resultado do ato
de ensinar, mas só é posta em prática se incorporada numa demonstração de
educação rotária.
No sentido literal,
conscientizar significa tomar consciência, ter noção ou idéia de algo. No
linguajar da juventude atual, significa "cair na real". Acredito que
essa expressão dos jovens traduz, com rara felicidade, o significado : tomar
consciência... cair na real... quer dizer encontrar-se consigo mesmo,
enfrentar, topar ou dar de frente com
uma realidade, com uma situação, com uma verdade, com um fato ou coisa. Quando
isso acontece, normalmente aprendemos, ou melhor ainda, nos educamos.
Acredito que a
conscientização seria o topo da escala, na qual o degrau inicial é a
informação, passando por outros termos não muito correntes no Rotary, como
instrução e educação rotária.
Informar, Instruir,
Educar e Conscientizar. Do primeiro para o quarto degrau a complexidade
aumenta.
Imaginem que a
informação, colocada lá na base da escala, está sendo considerada, nos dias de
hoje, a forma de poder do próximo milênio : os poderosos do século XXI serão os
detentores de informações. No passado, o foram os detentores de bens e moedas.
Hoje são os detentores de tecnologia. Amanhã os donos das informações.
Quando essas
informações são agrupadas, consolidadas, analisadas e ordenadas, se tornam
produtos comercializáveis. Se tornam conhecimento , altamente valorizado
e muito bem pago, dependendo da sua utilidade, atualidade ou novidade.
Os críticos dessa visão
dizem que se soma de informações, ou dados, conferissem tanto poder, o
computador seria o ser mais poderoso do mundo ou seríamos governados por
enciclopédias.
Outros críticos, ou
talvez os mesmos, afirmam que há um erro de perspectiva : o importante não é
ter a informação,mas saber onde ela se encontra. O poderoso será o detentor do
mapa da mina : pode ser da sua gaveta, da sua estante, da biblioteca da esquina
ou da universidade mais próxima ou o mouse do computador que ajuda a navegar
pela Internet.
Permitam-me abrir um
parêntesis...
Na revista Exame do
último dia 14, o sociólogo Eugen Pfister Jr., formado pela USP, num inspirado
artigo nos alerta para a ilusão de uma "sociedade superinformada". Ou
seja, contrariando as expectativas, a quantidade de informações nem sempre
resulta numa maior probabilidade de melhorar a qualidade. A prova disso, diz o
autor, é a mídia moderna e seus produtos supostamente informativos ---
programas de entrevistas, análises de articulistas, notícias e pesquisas de
opinião.
Registra o autor :
" Não passa um santo dia sem que um batalhão de celebridades artísticas,
desportivas, políticas, sindicais, drogados, abstêmios e congêneres desfie suas
opiniões sobre tudo e sobre todos. Os articulistas não deixam por menos.
Montou-se assim, uma verdadeira indústria do 'achismo' , do 'deixa que eu
chuto', no qual uns e outros (jornalistas, entrevistados e entrevistadores)
falam de sua vida sexual, fazem cálculos sobre a trajetória de cometas,
discutem reforma agrária, taxa cambial, política industrial, neoliberalismo,
como assar frango com raio laser, a melhor forma de receber o troco no ônibus
numa economia estabilizada, clonagem e outras tantas bobagens." Termina o
artigo : "Se antigamente jornalistas, articulistas, cronistas ou
comentaristas eram formadores de opinião, hoje foram reduzidos à condição de
reprodutores de opiniões alheias. Isso leva a crer que eles formam uma nova
categoria de despossuidos, que proliferam pelo Brasil de hoje. Com certeza não
são os "sem-terra", nem os "sem-teto", como tampouco são os
"sem-emprego". Simplesmente são os "sem-assunto".
Mas, voltando ao Rotary.
O que nossa instituição tem a ver com tudo isso? Simplesmente, concordemos ou
não, como rotarianos fazemos parte dessa realidade. Como Rotary somos nós,
Rotary pode influenciar ou ser influenciado por esse estado de coisas. A menos
que nos isolemos, como Rotary, num
pedestal ou numa redoma de vidro. Trata-se de mais um problema de
conscientização.
Vamos sair desta
digressão, fechar o parêntesis, e voltar às informações...
Aquelas informações
agrupadas e tornadas conhecimento, no mundo rotário podem ser traduzidas como instrução
rotária e, se um pouco mais elaborada, educação rotária.
A diferença básica está no grau de envolvimento do público-alvo : o
clima de instrução, hoje já está assimilado por Rotary pois cada distrito já
possui a figura do Instrutor Distrital, cuja missão fundamental é colaborar, e
em dadas circunstâncias, se responsabilizar pelo conteúdo dos eventos rotários
como assembléias, seminários, conferências, etc.
A instrução rotária é
sobretudo oferecida aos Governadores indicados na Assembléia Internacional , no
PETS-Seminário de Treinamento de Presidentes e Secretários e Assembléias
Distritais destinadas aos dirigentes rotários do clube com o propósito de
motivá-los para assumirem, de fato, as lideranças e responsabilidades para o
próximo ano rotário.
A educação rotária,
muito próxima da instrução, ainda está por merecer estudos mais aprofundados no
Rotary, inclusive porque a pedagogia moderna defende a tese de que para isso
acontecer ,depende mais do aluno querer aprender do que o professor ensinar. Em
outras palavras, não é mais o professor que ensina... é o aluno que aprende.
Para isso é necessária uma declarada vontade de aprender : eu quero aprender.
No Rotary não é diferente...
Até para os
"famigerados" 5 minutos de informação rotária é necessária essa
deliberação : "Eu quero ouvir...e ouço...eu quero assimilar... e
assimilo". Na prática normalmente não funciona, o que torna essa parte da
reunião uma reconhecida perda de tempo. Mudar a pedagogia? Mudar a posição
relativa no programa da reunião? Conscientizar o rotariano, talvez seja mais
lógico, apesar de mais demorado e cansativo.
Por tudo isso, ou por
causa disso, Rotary foi ao topo e institucionalizou janeiro como o MÊS DA
CONSCIENTIZAÇÃO ROTÁRIA : mês dedicado à expansão do conhecimento do Rotary e
suas atividades dentro do clube e na comunidade.
Divulgar o lema do
Rotary, o Objetivo do Rotary, a Prova Quádrupla : é informar, instruir, educar
ou conscientizar? É tudo e pode ser nada. Será tudo do tudo se for
conscientizar, ou seja :
* Divulgar o lema do
Rotary...vivendo.
* Divulgar o Objetivo
do Rotary...praticando.
* Divulgar a Prova
Quádrupla...respeitando.
Desde a infância
conhecemos aquela máxima famosa que diz : " um exemplo vale por mil
palavras".
O lema do ano rotário :
"Mostre que o Rotary se Interessa, pela sua comunidade, pelo nosso mundo,
pela humanidade", é um apelo à conscientização.
Até o ano 2000 Rotary
terá aplicado, através da Fundação Rotária, cerca de 400 milhões de dólares no
Programa Pólio Plus, resultando na imunização de mais de 1 bilhão de crianças
contra a poliomielite. 90% dessa importância é proveniente da doação voluntária
de rotarianos. Pergunto : rotarianos informados, instruídos, educados ou
conscientizados?
A conscientização,
companheiros, não está, obrigatória ou necessariamente, associada ao grau
cultural ou de conhecimento do rotariano, nem à sua posição na hierarquia do
movimento. É de se esperar que haja uma correlação positiva. Porém , uma
demonstração de conscientização rotária pode vir à tona, por exemplo, numa
mensagem de despedida de uma intercambista retornando para seu país, como
aconteceu na reunião do último dia 13, no meu clube. Outra demonstração pode vir
de um companheiro que entende, dá exemplo, e defende a importância da
freqüência no clube e o ato de recuperar. Tenho a certeza que ele entende essa
"opção de vida rotária" como uma das principais chances, entre
outras, de desenvolver o companheirismo como oportunidade de servir e se manter
sintonizado com o trabalho rotário. Ainda uma outra demonstração pode ser a
doação de 1 milhão de dólares à Fundação Rotária. Sonho? Delírio? Não. O Comp.
Carl Miller, presidente do RI em 1963-64, o fez , a partir da qual foi
estabelecido o Subsídio Descoberta.
Dizendo uma palavra,
esboçando um gesto, fazendo alguma coisa acontecer, até doando uma fortuna... a
conscientização rotária mostra que vem de dentro, não sei se da alma ou do
coração. Mas é, sem sombra de dúvida, um estado de espírito.
Dentro dessa ótica de
conscientização, nosso Distrito tem programado no últimos dois anos, os
chamados Fóruns de Conscientização Rotária : no ano passado, conscientização em
torno das Novas Gerações, atendendo o apelo do presidente Luis Vicente Giay :
"Construa o Futuro com Ação e Visão". Neste ano rotário, a
conscientização esteve centrada no desafio "Nucleação para o
Auto-desenvolvimento", em resposta às forças-tarefas lançadas pelo
presidente Glen Kinross. Os fóruns procuram explorar alternativas de
instrumental para o trabalho junto à comunidade, além do tradicional que,
muitas vezes ou quase sempre, se confunde com caridade, filantropia,
assistencialismo, paternalismo e assemelhados.
Companheiros...a
conscientização, além do seu mais largo espectro, profundidade ou
abrangência é a mais duradoura das
" missões didáticas rotárias", pois , como o nome diz, toca na
consciência : pode alterar valores, mudar crenças e ajustar paradigmas.
Informação...o nome já diz...informa para a ação...
Instrução... instrui para a ação...
Educação... educa para a ação...
Conscientização...conscientiza para a ação...
Desafia...Provoca...Motiva...Faz...Realiza...
Relembrando a frase dos
jovens... Tudo isso só acontece quando eu, rotariano, decididamente CAIO NA
REAL, ou como diz minha filha caçula...CAI A FICHA...
O trabalho de Paul
Harris renasce a "cada ficha que cai"...
(julho
de 2001)