PAUL PERCY HARRIS, ESCRITOR
Paul Percy Harris, fundador de nossa
organização, nasceu na cidade de
Racine, estado do Wisconsin, E.U., a 19 de abril de 1868 e faleceu em Blue
Island, estado de Illinois, em 27 de janeiro de 1947.
Filho do meio, entre um
irmão, Cecil e uma irmã, Nina May, a partir dos dois anos foi criado pelos avós
paternos, Henry e Clarissa, na cidade
de Wallingford, Vermont. Em seus quase 80 anos de vida exerceu um sem número de
atividades: foi advogado por profissão e fundador do Rotary por inspiração
divina. Escritor de uma obra só, um livro autobiográfico: “My Road to Rotary”,
publicado no Brasil sob o título “Meu Caminho para Rotary”.
O original em Inglês
foi publicado em 1945 e a versão brasileira em 1990, com prefácio da tradução
pelo saudoso Paulo Viriato Correa da Costa,
presidente do RI no ano rotário de 1990-91.
A edição em inglês foi
reeditada tempos atrás e a edição em
português encontra-se esgotada.
Li o livro inteiro duas
vezes, além de um sem número de consultas esparsas. A primeira vez, o fiz como
um simples leitor e a segunda como revisor quando foi escaneado para sua versão
digitalizada e que pode ser encontrada no site do Distrito 4310. Essas duas
incursões literárias e mais as outras “consultas bíblicas”, tornaram-me um dos
maiores fãs de Paul Harris, como escritor.
Confesso que, ainda
como simples leitor, fiquei um pouco frustrado na primeira investida pois, num
livro de 42 capítulos e com o título “Meu Caminho para Rotary”, a palavra-alvo,
“Rotary”, aparece pela primeira vez só no capítulo 33º , lá pela página 185 da
versão brasileira.
Antes disso, descreve
com detalhes, seu vale e seu lar...seus tipos inesquecíveis, as travessuras da
infância e as aventuras da juventude. Apresenta com carinho as figuras de seus
pais, George e Cornélia, porém com especial reverência seus avós Henry e
Clarissa. Tão grande era seu amor e reconhecimento por eles que, além de serem
citados com freqüência, dedicou
capítulos especiais sobre o falecimento de seu avô ( capítulo 29º) e sua avó (
capitulo 30º) infausto acontecimento que coincidiu com sua formatura como advogado.
No capítulo 31, um misto de curiosidade e surpresa quando lendo o livro:
descrevendo, conforme o título do capítulo “Cinco Anos de Aventura”, suas
andanças pelo mundo antes de se estabelecer como advogado em Chicago, muda o
referencial da narrativa da primeira
pessoa ( como alguém contando sua própria história) para uma posição de alguém
narrando a história de outra pessoa. Em outras palavras, sem motivo aparente,
muda do “eu” para “ele” e assim completa o capítulo. Na abertura do capítulo
32º, retoma o padrão narrativo da obra que é mantido até seu final.
No capítulo 33º relata
como conheceu sua esposa Jean Thomson...mas, é melhor deixar que ele mesmo
conte:
“Passeando
no "Praerie Club" de Chicago, encontrei uma moça escocesa muito
bonita, que se preocupou com um rasgão em meu paletó e se ofereceu para
cerzi-lo. O gesto a complicou, pois, logo em seguida, eu a persuadi a tornar-se
minha esposa. Chamava-se Jean Thomson. Desposei a bonita Jean em 1910 e dois
anos depois adquiri uma casa na colina. Batizamo-la "Comely Bank",
adotando a denominação da rua onde ela vivera a sua infância e juventude, em
Edimburgo. Durante os maravilhosos trinta anos que mantivemos a propriedade, a
meninada teve inteira liberdade de brincar nos seus gramados”.
Mas voltemos à minha
frustração de leitor da primeira viagem.
Como professor
universitário, ainda na ativa quando do primeiro contato com o livro, e
acostumado a analisar dissertações e teses, conclui intempestivamente, na
época, que, de duas uma: o título estava errado, ou, se correto, o conteúdo é
que não estava “dentro dos conformes” ( expressão que meu saudoso pai usava
muito).
Porém, louvado seja o Senhor! Como revisor, entendi a
sutileza e a profundidade da mensagem do livro: o caminho para Rotary, o do
verdadeiro Rotary, deve ser longo,
muito longo... Não é uma simples picada ou um modesto atalho que transforma um
cidadão em rotariano. Cá entre nós, parece que a equipe administrativa do RI
não leu o livro. Vejam... de alguns anos para cá, está incentivando a (abre
aspas) caçada a laço (fecha aspas) de novos sócios, inclusive através da
internet. No site oficial do RI há um formulário a ser preenchido por
potenciais sócios interessados em ingressar no Rotary. A bem da verdade (
bendita Prova Quádrupla) e da justiça, registre-se que o tal formulário procura
sócios e não rotarianos. Ninguém, hoje, mais discute a grande distância
existente entre “sócio de um RC” e “rotariano”. Tanto é verdade que qualquer
pesquisa em dada comunidade mostra que a maior parte dos rotarianos ainda não
ingressou em nenhum Rotary Club.
Mas, digressão à parte,
voltemos ao livro. “Meu Caminho para Rotary” é recheado de parágrafos e mais
parágrafos, frases e frases da mais alta inspiração humana, muito antes de
qualquer motivação rotária. Trechos selecionados aparecem em outra pérola da
literatura rotária de título: “Honrando
nosso Passado: As Palavras e a Sabedoria de Paul Harris”, coletânea editada em
1996, com prefácio de Luis Vicente Giay, que foi presidente do RI nesse ano
rotário, ano I do Distrito 4310. O companheiro Giay no seu prefácio destaca em
dado trecho: “Embora este volume tenha sido concebido como um tributo,
certamente será muito útil como referência a todos os rotarianos. Isto porque
em suas páginas está presente a voz de nosso fundador, falando-nos de questões
da maior importância, falando-nos da vida e do Rotary. Sua sabedoria e
compaixão emanam de cada página”.
Vejamos alguns exemplos das palavras
e da sabedoria de Paul Harris, tiradas de seu livro “Meu Caminho para Rotary”,
que poderiam ser re-escritas nos dias atuais.
a)Sobre Compreensão Mundial: Em seus esforços para promover a
compreensão entre as nações, o Rotary dissemina entre nós os mesmos conceitos
que demostraram ser tão efetivos nos primeiros dias da organização ---
interesse mútuo e relações amistosas. Através dos negócios e das relações
sociais, as nações passam a compreender umas às outras. Hábitos estranhos que
no início são irritantes tornam-se interessantes e freqüentemente são copiados,
contribuindo para o enriquecimento da vida.
b)Sobre
a tolerância: A amizade foi a pedra fundamental sobre a qual o Rotary
foi construído, e a tolerância é o elemento que o sustenta. Haveria energia
atômica suficiente em cada Rotary Club para explodi-lo em mil pedaços se não
fosse pelo espírito de tolerância. E mais à frente: Esse espírito de
tolerância que possibilitou ao Rotary formar uma cadeia mundial de amizade
entre homens de negócios e profissionais em todo o mundo fará com que tudo seja
possível.
c)Sobre companheirismo e trabalho: Cada fase evolutiva da vida moderna sofre
influência do Rotary e a visão dos seus membros se alarga. Ainda mais que,
sobre isso tudo, está a calorosa e doce sensação de companheirismo e amizade,
que valoriza a vida. Estas são algumas das muitas razões pelas quais os
rotarianos se orgulham da sua filiação. E não são somente os trabalhos
meritórios, que enriquecem o Rotary. Os bons trabalhos são a expressão do que
há a sustenta-los. As forças mais poderosas do mundo são invisíveis. A
eletricidade nunca foi vista por nenhum mortal e, no entanto, é a energia que
ilumina as cidades e move as fábricas. A gravidade, que ninguém ainda viu, faz
despencar as águas do Niagara e dá existência àquela maravilha da natureza.
Mesmo o ar que respiramos é invisível, no entanto, nos faculta a vida. O poder
de Rotary é invisível mas pode operar milagres.
d)Sobre o berço do Rotary: Não poderia haver época mais oportuna para o surgimento de um movimento
como o Rotary, do que o início do século XX, nem local mais apropriado, para
fazê-lo crescer, do que a criativa, exuberante e paradoxal Chicago. O clima de
insegurança reinante em Chicago, naquela época, prevalecia em outras regiões do
país. De maneira generalizada, os negócios iam mal: a ética comercial agredida,
em desfavor dos consumidores, dos empregados e competidores. O espírito de
comunidade estava praticamente esquecido. Era necessário mudar para melhor.
Mais, até, que necessário: tinha que mudar!
e)Sobre a concepção do Rotary: Uma noite fui com um colega de
trabalho a sua casa nos arredores da cidade. Depois do jantar, enquanto
caminhávamos pela vizinhança, meu amigo cumprimentou pelo nome diversos dos
comerciantes locais em suas lojas. Esse gesto lembrou-me de minha vila na Nova
Inglaterra. Foi então que pensei, por que não criar, na grande Chicago, um
círculo de amizades composto de um representante de cada uma das diversas
profissões, sem restrições a seus credos religiosos ou ideais políticos, mas
sim com tolerância ampla por suas opiniões? Será que desse círculo de amizades
não poderia nascer ajuda mútua?
Para
encerrar , e com todo o respeito ao advogado, ao fundador do Rotary e ao
escritor, confesso uma outra frustração, agora
do leitor e revisor: nas 256
páginas do livro não faz a mais remota ou mínima referência à Fundação Rotária,
nascida em 1917, sob inspiração de Arch C. Klumph com o nome “ Fundo de
dotações”. Alguma coisa deve ter acontecido, pois Paul Harris, como vimos,
escreveu seu livro em 1945, cerca de 28 anos após o lançamento da semente da
organização, hoje considerada, por uns, como o braço direito, e por outros,
como a menina dos olhos do Rotary. Em outras palavras, Paul Harris conviveu 28
anos com ela, e no seu único livro a ignora (abre aspas) solenemente (fecha aspas).
Tem que existir uma explicação. Enquanto não a encontramos, lanço uma hipótese:
se Paul Harris levou 37 anos ( o primeiro clube foi fundado em 1905) gestando
seu primeiro livro descrevendo sua jornada para o Rotary, talvez estivesse, da
mesma forma, gestando seu segundo livro que ouso até dar um título: “O Caminhar
das Avenidas de Serviço através da Fundação Rotária”. Deus, que também deve ter
seus motivos, não permitiu e levou Paul Harris antes que ele pudesse
concretizá-lo. Deus, Deus sabe o que faz! Deixou, para nós escreve-lo, tornando
reais nossos sonhos de Rotary, plantando sementes de amor, estendendo a nossa
mão. A bênção, Paul Harris. Amém!
(Fevereiro de 2003)