FACA DE DOIS GUMES
Paul Harris, em 1945, escreveu : " Esse espírito
de tolerância que possibilitou ao Rotary formar uma cadeia mundial de amizade
entre homens de negócios e profissionais em todo o mundo fará com tudo seja
possível".
Existem dúvidas se o
"...tudo seja possível." possa incluir alguns fatos do dia-a-dia
rotário que são cada vez mais freqüentes em nome da "santa
tolerância". Vamos a alguns mais comuns :
1. São propostos e
admitidos candidatos sem um mínimo de condição moral para pertencerem ao clube. Procurando não ser
intolerante, o tolerante defensor dos
direitos humanos dirá : "Quem é você para legislar sobre a moral dos
outros?". Tudo bem! Pela "santa tolerância" vamos remover a
Seção 1 do Artigo V dos Estatutos do Clube que reza :" Este clube será integrado por adultos, de
caráter ilibado e de boa reputação comercial ou profissional". Caso
contrário estamos, em nome da tolerância, sendo tremendamente hipócritas.
2. Sócios de clubes literalmente
"desaparecem", não recuperam e, pior ainda, não dão a mínima
satisfação. São mantidos como sócios, imaginando-se que os mesmos devem ter
fortes razões para assim procederem : " deve haver alguma razão"
passa a ter validade de crédito de
freqüência. Para se evitar qualquer providência intolerante, coerência e
bom-senso, melhor remover dos estatutos todo o Artigo VII que trata das regras
de freqüência.
3. Sócios de clubes ficam em débito com a
tesouraria por meses, quando não, por anos.Os tolerantes ( será esse o termo
aplicável? ) vão pagando suas taxas rotárias, na esperança de que
"melhores dias virão". Como essa falta está, normalmente, associada à
anterior, fica até difícil se descobrir o que está acontecendo na realidade.
Tudo bem , outra vez! Removamos a Seção 4 do Artigo X dos estatutos e os
"intolerantes" perderão mais uma arma poderosa.
4 Clubes, rotarianos e respectivos cônjuges,
combinados dois a dois, três a três, etecétera, se engalfinham por qualquer
diz-que-diz, quando não declaram guerra, numa demonstração espantosa de
intolerância. Na platéia, uma imensa massa amorfa de tolerantes mantém
cautelosa distância na "doce ilusão" de que as coisas acabam se
ajeitando. Inclusive porque se um tolerante "entrar na briga" vai ter
que tomar partido" e acabará sendo tachado de intolerante pela outra
parte. Solução : deletar o Artigo XIV dos estatutos que trata da Arbitragem.
Bem... paremos por
aqui...O leitor deve estar julgando o articulista de intolerante (ou até o
acusando, o que é uma atitude típica de intolerância!!!)... Pior será concluir
que, nesta marcha e "contando
outros causos", não vai sobrar
estatuto nenhum "para contar história"!
Paul Harris quando
propôs a prática da tolerância não imaginou que , um dia, pudesse aparecer o
"jeitinho brasileiro", primeiro e importante passo para avacalhar
qualquer instituição humana.
(Outubro
de 1997)