TEMPOS DE INFÂNCIA

Quem não se lembra de nossos tempos de infância quando cantávamos :

Ciranda, cirandinha...vamos todos cirandar. Vamos dar a meia volta...volta e meia vamos dar!

Bons tempos! Naquela época não poderíamos imaginar que hoje...

A fome e doenças passíveis de prevenção causam a morte de 34.000 crianças diariamente. Ou seja, morrem 24 crianças a cada minuto. Ao mesmo tempo, a cada minuto, 50 crianças nascem em meio à pobreza, tendo à sua frente a fome crônica, bem como crescimento físico e mental retardado. Das crianças que sobrevivem até a idade escolar, 140 milhões não freqüentam a escola. Além disso, quase 100 milhões de crianças não tem onde morar, enquanto um número semelhante precisa trabalhar, freqüentemente em condições lamentáveis para ajudar a sustentar suas famílias (1).

Ontem, cantigas de roda :

Atirei o pau no gato, tô, tô...mas o gato, tô, tô não morreu, reu, reu...Dona Chica, cá, cá admirou-se, se, se..c'o berrô, c'o berrô que o gato deu...

Hoje, uma dura realidade:

Duzentos milhões de crianças em todo o mundo são exploradas nos seus empregos, vendidas, usadas para transplantes de órgãos ou submetidas à prostituição, assegura um relatório de Comissão de Direitos Humanos da ONU. O texto afirma que a exploração no trabalho, as adoções com fins comerciais e a prostituição são os principais dramas que afligem a infância contemporânea. Ressalta também que centenas de milhares de crianças são utilizadas como fontes de órgãos para transplante e em negócios de pornografia (2).

Ontem, para dormirmos, nossas mães cantavam :

Dizei senhora viúva com quem quereis se casar...se é com filho do conde... se é com seu general, general, general...

Hoje, quem pode dormir tranqüilo com esta notícia:

Quando começou a cuidar de meninas prostitutas em Recife, a advogada Ana Vasconcelos ficou intrigada ao ouvir uma expressão desconhecida e usada como sinônimo de aborto. De fato, é uma palavra estranha : "pesada". Ela acompanhava uma descontraída conversa entre duas meninas. Uma delas contou que há dias tinha feito um aborto e, enfim, estava livre da gravidez que tirava clientes da rua;

Ana se aproximou, curiosa e perguntou : O que é "pesada"?

A advogada ficou estarrecida com a explicação. "Pesada" era levar um chute forte na barriga. Era um meio, segundo a menina, fácil e certeiro de fazer o aborto. E, ainda por cima, barato pois não necessitava de médico. Bastava a ajuda de alguém que se dispusesse a dar uma "pezada", o que não era difícil(3).

Ontem, quem não se encantava com a música :

Quem quer casar com a senhora baratinha que tem fita na cabelo e dinheiro na caixinha?

Hoje, encanto transformado em frustração e sentimento de impotência :

Mais de cem milhões de crianças vivem nas ruas em todo o mundo e pelo menos a metade consome drogas. Essa constatação é da Organização Mundial da Saúde. O órgão divulgou os resultados de um estudo realizado com menores, com idades entre 10 e 18 anos, em dez cidades de diversos países, entre elas o Rio de Janeiro. O documento alerta para a possibilidade alarmante de crianças de rua se transformarem num importante fator de disseminação da AIDS em todo o mundo. A pesquisa foi realizada pelo Programa sobre o Uso de Drogas da organização citada, coordenado pelo economista sueco Hans Emblad. Há mais de 20 anos ele trabalha na área da prevenção do uso de drogas. De acordo com o economista, uma das constatações mais importantes do levantamento é que o problema das crianças de rua não se restringe aos países pobres ou em desenvolvimento(4).

Companheiros e parceiros de Rotary.

Muita coisa tem sido feita pelos Rotary Clubs, isolados ou em parcerias, local e internacionalmente. A nível do nosso Distrito somos testemunhas de inúmeros exemplos notáveis e dignificantes tanto dos clubes como das Associações e Casas da Amizade. Porém, o volume de problemas é tão grande e tão diversificado que os esforços devem ser redobrados, as ações concentradas e compartilhadas e o envolvimento de todos nós deve ser expandido.

Nunca como hoje e agora, o apelo do Presidente James Lacy tem que ser acolhido. Nunca como hoje e agora temos que diminuir as distâncias entre os sonhos e as realidades. Nunca como hoje e agora, o futuro tem que ser preparado no momento presente. Antes que seja tarde demais.

Cada rotariano ou parceiro, cada clube tem que se questionar sobre o onde, como e quando trará sua contribuição, ou aumentará a que estiver dando, para minimizar ou eliminar os problemas relatados e que estejam ocorrendo na sua vizinhança, no seu bairro ou na sua cidade.

O Presidente James Lacy nos diz :

" Ao trabalhar em prol da comunidade, lembre-se sempre das necessidades de seus membros mais inocentes e desamparados. Vamos nos empenhar para suplantar o medo e o desespero que marcam a vida de tantos jovens com amor e esperança por um futuro mais brilhante. Através de nossos sonhos de Rotary, vamos transformar em realidade os sonhos de crianças de todo o mundo".

Que seu apelo e desafio nos sensibilize a todos.Que encontre eco em nossos corações e força em nossas mãos. Não por nós, mas pelos nossos filhos e dos filhos dos nossos filhos, pelas crianças e jovens, pelo futuro, pela vida. Amém.

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  1. Mensagem Presidencial sobre Necessidades Comunitárias, James Lacy
  2. O Cidadão de Papel, Gilberto Dimenstein
  3. A Guerra dos Meninos, Gilberto Dimenstein
  4. Reportagem do O Estado de São Paulo

(Novembro de 1998)

 

 

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