Convidado para falar sobre a nossa Fundação Rotária, resolvi mudar o enfoque para aspectos econômicos, ou seja, tive a ousadia de preparar uma palestra sobre economia. Seu título: “ Como transformar 26 dólares e cinquenta centavos em 3 bilhões e oitocentos milhões de dólares”.
De início
gostaria de lhes apresentar os dois principais protagonistas dessa mágica
ou desse milagre econômico-financeiro: Paul Percy Harris e Arch Klumph.
PAUL HARRIS,
filho de pais de vida pouco regrada, foi criado por seus avós paternos,
Harold e Pâmela. Criança e jovem travesso, era o terror da
pacata cidade de Wallingfort, Vermonte, EUA e acabou expulso de duas escolas.
Entretanto, a austeridade, a compreensão, a bondade e a tolerância de seus avós, bem como a confiança que seu primeiro patrão nele depositou, pesaram, em muito, na mudança de comportamento daquele que fundou e desenvolveu o que se tornaria a maior entidade particular de serviço social do mundo.
Em 1891, formou-se em Direito e decidiu passar os cinco anos seguintes conhecendo os Estados Unidos. Trabalhou como repórter, cowboy, professor na Los Angeles School of Business, porteiro de hotel, vendedor de granito e marinheiro. Em 1896, estabeleceu-se em Chicago e, em pouco tempo, tornou-se um advogado conhecido.
Uma noite, Paul Harris foi jantar com um colega do escritório, e de uma caminhada que fizeram após o jantar surgiu a ideia do que se tornaria o Rotary.
Naquele passeio seu amigo parou em vários estabelecimentos comerciais para cumprimentar os proprietários e lhes apresentar Paul. O fato de que os clientes de seu anfitrião haviam se transformado em amigos entrou na mente de Paul Harris e nunca mais saiu. O Rotary foi criado cinco anos mais tarde como um clube onde relacionamentos profissionais pudessem ser transformados em amizade. A primeira reunião ocorreu na sala 711 do Edifício Unity, em Chicago, composta pelos quatro fundadores: Paul Harris, Silvester Schiele, Hiram Shorey e Gustavus Loehr.
Quando criança, Paul Harris estudara em escolas de elite, onde os alunos tinham pouca ou nenhuma preocupação com dinheiro. Mas ao cursar a faculdade de direito, conheceu colegas mais velhos que haviam trabalhado duro para poderem pagar seus estudos. Possivelmente, este contato impressionou Paul Harris pois os primeiros Rotary Clubs eram formados por homens de negócio que conquistaram o que tinham por seu próprio esforço, os denominados self-made men.
Paul Harris, casou-se com Jean Thomson, natural de Edimburgo, Escócia, em 1910. O casal não teve filhos e permaneceram casados até o falecimento de Paul em 1947. Jean faleceu em 1963, em sua cidade natal.
Após a fundação do primeiro Rotary Club em Chicago, o advogado tornou-se, marido exemplar, cidadão do mundo, conheceu os cinco continentes, recebeu honrarias de reis e presidentes e tornou seu nome sinônimo do que de mais valor herdara de seu avô: a tolerância.
Foi o terceiro presidente do RC de Chicago ( 1907-08) e primeiro presidente do Rotary International ( 1910-11).
Paul Harris também é o nome dado ao título de reconhecimento mais importante concedido pelo Rotary International.
ARCH KLUMPH, um rotariano que iniciou sua trajetória rotária em dezembro de 1910, como sócio fundador do 18° Rotary Club fundado no mundo, o Rotary Club de Cleveland, Ohio, Estados Unidos.
Foi um brilhante
presidente de seu clube em 1912-13, com uma gestão que ficou evidenciada
por anos, pela maneira como conduzia as reuniões e pelas suas realizações.
Em seu discurso,
na transmissão de cargo, falou da importância de um fundo
de reservas, no clube, para concretizar, mais e melhor, os projetos em
benefício da comunidade.
Foi diretor em 1914-15; presidiu uma comissão encarregada de escrever os novos estatutos de RI; foi responsável pelo documento que estabeleceu o modelo de divisão distrital; criou o cargo de governador de distrito e a conferência distrital anual; também coordenou a elaboração dos estatutos prescritos e regimento interno, recomendados para todos os Rotary Clubs.
Foi o sexto presidente do RI, em 1916-17, quando nossa organização era ainda conhecida como International Association of Rotary Clubs.
Na Convenção
Internacional de 1917, realizada em Atlanta, Geórgia, Estados Unidos
propôs --- e foi aprovada--- a criação de um Fundo
de Dotações “para fazer o bem no mundo”, sendo a primeira
dotação de 26,50 dólares feita pelo Rotary Club de
Kansas City. Em 1938 o Fundo de Dotações teve seu nome mudado
para Fundação Rotária.
Paul Harris
e Arch Klumph, além de rotarianos, notáveis rotarianos, tinham
uma característica em comum: uma obstinada crença nos seus
sonhos. Sim, tanto Rotary como sua ( nossa) Fundação Rotária
são árvores frondosas porque suas raízes, apesar dos
honorários jardineiros, não enfrentaram a terra fofa, úmida
e fértil. Enfrentaram a terra árida, seca e pedregosa. Somente
raízes vigorosas e resistentes podem suportar árvores centenárias:
Rotary, 111 anos e Fundação, 100 anos.
Senão vejamos:
Paul Harris, no seu livro “Meu Caminho para Rotary”, escrito em 1945, deixou registrado no Capítulo XXXIV: “ Era para mim, quase uma frustação, o fato de que a maioria dos meus companheiros concebiam, como um sonho fantástico, a expansão do movimento rotário através do mundo. Nada é mais desconcertante que o olhar frio e o ar de mofa de amigos, de quem se espera apoio e compreensão. Compreendi, desde logo, que eu próprio, com minha ação pessoal, teria que provar a exequibilidade do meu ideal.” E mais à frente registrou: “Foi um período longo de dolorosa expectativa. Sofri desesperanças amargas, alternadas por fases de vibração e otimismo sem, contudo, poder abandonar o meu trabalho de firmar-me na profissão. Três anos longos se passaram para que surgisse o primeiro resultado positivo”.
Em 7 de novembro de 1939, vinte e dois anos após a criação do “Fundo de Dotações” e onze anos após sua transformação em “Fundação Rotária”, sintam a dor de Arch Klumph em trecho de uma carta escrita em resposta a um seu companheiro, ex-presidente da nossa organização:
Registra Arch Klumph: “ A sua carta de 7 de novembro chegou em um momento de profundo pesar e desânimo por causa de alguns e atuais assuntos rotários. Com relação à Fundação, minha amargura é ilimitada. Desde o início, tenho conhecimento da fonte de oposição. Apesar de sutis, não conseguiram acobertas suas ações. Movidos por ciúme e inveja, eles tem impedido o desenvolvimento da Fundação e estou convencido que em breve ela estará arruinada, a ponto de deixar de existir. É inacreditável a falta de visão e a ignorância.”
Companheiros e diletas companheiras.
E se Paul Harris tivesse desistido? E se Arch Klumph tivesse desistido?
Quando Paul Harris faleceu em 1947, éramos 300.529 associados em 6.234 clubes em 78 países. Como um de seus últimos desejos deixou registrado o apelo de que qualquer homenagem a sua pessoa fosse convertida em doação a Fundação Rotária. Um ano e meio depois, as contribuições já totalizavam cerca de 1 milhão de dólares.
Quando Arch Klumph faleceu em 1951, quatro anos depois, éramos 341.716 companheiros em 7.113 clubes em 83 países. O pedido de Paul Harris causou uma verdadeira revolução rotária, e as doações já atingiram 3 milhões de dólares.
Hoje, somos cerca de 1.240.000 companheiros e companheiras em quase 55.000 Rotary Clubs em mais de 200 países e regiões geográficas.
O último relatório da Fundação Rotária aponta, para os dias de hoje, uma movimentação anual de 270 milhões de dólares e um acumulado, desde 1947, de 3 bilhões e 800 milhões de dólares.
Paul Harris e Arch Klumph, dois mágicos da economia rotária só tiveram que acreditar nos seus sonhos. E não desanimarem. Suas crenças embasaram suas dedicações às causas rotárias e seus exemplos, como vírus benignos, contaminaram uma leva imensa de cidadãos e cidadãs do mundo todo. Bendito entusiasmo rotário que, talvez, explique nossas longevas carreiras nas sendas do ideal de servir, do dar de si antes de pensar em si.
Encerro com trecho
de uma mensagem que me tocou profundamente quando participando da assembleia
internacional em Anaheim, California, Estados Unidos, como governador
eleito em treinamento. O companheiro ex-presidente do RI, Clifford Dochterman,
então Presidente dos Curadores, comparou a Fundação
Rotária a uma janela.
Suas palavras
: " A Fundação Rotária é como uma janela, através
da qual podemos ver todos os programas internacionais promovendo a paz,
boa vontade e compreensão. É através da janela da
Fundação Rotária que podemos ver a realidade do mundo.
Olhem pela janela. Podem ver que metade da população mundial
vive em meio à pobreza? Podem ver milhões de crianças
que não vão à escola? Podem ver pessoas passando fome?
Podem ver crianças doentes ou mutiladas, e as milhões de
pessoas sem acesso a tratamento médico? Podem ver as famílias
que não contam com água potável ou saneamento adequado?
Podem ver jovens dormindo nas ruas? Podem ver vítimas de violência
física e mental e vidas sendo destruídas pelo uso das drogas?
Podem ver os homens e mulheres desempregados, sem condições
de atender às necessidades básicas de suas famílias?
Podem ver pessoas vivendo sem esperança --- sem mesmo um sonho?"
A propósito, o lema rotário daquele ano foi “Torne Real seu Sonho de Rotary”.
A bênção Paul Harris! A bênção Arch Klumph!