A MULHER NO ROTARY
Antes de
abordarmos a participação da mulher no Rotary vamos analisar, rapidamente, sua
posição no mundo e no Brasil.
Li,
recentemente um artigo interessante intitulado “O Sexo Forte” que desmistifica
a decantada “fragilidade feminina”. Começa da seguinte forma:
"Mas,
afinal, o que querem as mulheres?", perguntou, certa vez, Sigmund Freud, o
pai da psicanálise. Um livro de obstetrícia de 1900 afirmava: "A mulher
tem um cérebro muito pequeno para o intelecto mas grande o bastante para o
amor". O filósofo grego Aristóteles a definia como "um macho
mutilado". No século XV, um texto do frei Battista Mantovano alinhava nada
menos que sessenta conceitos pejorativos sobre o sexo feminino, incluindo
servil, desprezível, cheio de veneno, inconstante, fingido, falador, leviano,
audacioso e maligno. Para os homens, a mulher foi sempre um enigma. Na falta de
sensibilidade para decifrá-lo, coube a eles produzir uma inacreditável coleção de
estereótipos para moldar, durante séculos, a imagem da mulher como a do sexo
que não evoluiu plenamente, uma versão frágil e mal-acabada da espécie humana.
Hoje, mais de 2,8 bilhões de mulheres estão revolucionando o mundo. Elas
governam países, pilotam aviões, vão à guerra, viajam ao espaço, são maioria
nas universidades, decidem eleições, regem orquestras, dirigem empresas,
quebram recordes esportivos. Sexo frágil? Que nada! “
Alguns
números atuais mostram que: as mulheres já são maioria no Brasil (51 a 52% da
população), 51% dos alfabetizados, 50% do eleitorado e 40% da população
economicamente ativa; são chefe em 25% dos lares brasileiros e no mundo todo,
são responsáveis por 75% das horas trabalhadas no planeta; na tecnologia,
internet e comércio eletrônico crescem 10% ao mês, respondem por 45% da
população plugada hoje e serão maioria em 2002.
Porém,
continuam enfrentando uma série de problemas, ainda, sendo os principais: discriminação
no trabalho; salários inferiores aos dos homens (cerca de 75% dos seus níveis);
dupla jornada de trabalho e violência doméstica
A
escalada do progresso feminino foi conseguido a duras penas. No Brasil as
principais conquistas femininas foram:
1879
O governo abre as instituições de ensino superior às mulheres.
1887
Rita Lobato Velho Lopes torna-se a primeira mulher a receber o grau de médica.
1911
Instituído
o Dia Internacional da Mulher ( 8 de março)
1928
O governo
do Rio Grande do Norte confere direito de voto às mulhes e foi eleita uma prefeita, a primeira da história
do Brasil.
1932
O governo de Getúlio Vargas promulga o novo Código Eleitoral pelo Decreto nº
21.076, garantindo o direito de voto às mulheres brasileiras.
1975
No Rio, um grupo de intelectuais, universitárias e donas de casa articula
comemorações que culminam com a criação do Centro da Mulher Brasileira. o CMB,
primeira organização do novo feminismo. Em São Paulo, outro grupo monta o
Centro de Desenvolvimento da Mulher Brasileira, o CDMB. Aparece também o
MFA-Movimento Feminino pela Anistia
1979
Eunice Michilles, representante do PSD/AM assume a vaga de senadora, por
falecimento do titular, e se torna a primeira mulher a ocupar o cargo, no país.
Júnia Marise foi a primeira eleita para o cargo, em 1990.
1985
Surge a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher em São Paulo.
Mais unidades são implantadas em outros estados brasileiros.
1988
26 deputadas federais constituintes obtêm mudanças na Constituição Federal,
garantindo igualdade a todos os brasileiros, perante a lei e assegurando que
"homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações".
1994
Começa a articulação para a redação do documento reivindicatório para a IV
Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher, que seria realizada em
Beijing, China, no ano seguinte. Foram realizados 91 eventos, envolvendo mais
de 800 grupos femininos em todo o país.
1997
As mulheres ocupam 7% das cadeiras da Câmara dos Deputados; 7,4% do Senado e 6%
das prefeituras brasileiras. O índice de vereadoras eleitas aumenta de 5,5%, em
92, para 12%, em 96.
E no Rotary?
Não vamos falar de seu importante
papel como esposas de rotarianos ou de suas parcerias nas Casas de Amizade e
Associações de Senhoras ou Famílias de Rotarianos pois já as elogiei na
abertura do III Encontro das Associações e Casas da Amizade durante a última
conferência em Águas de São Pedro. Na oportunidade, disse e repito textualmente
acerca do apelo feito no início do ano rotário sobre o trabalho em parceria:
“Queridas parceiras. Vocês levaram
muito a sério esse nosso apelo/desafio. O volume de trabalho desenvolvido
superou as expectativas de tal maneira, ou em tal volume, que um dos
governadores nos disse que as Casas da Amizade e Associações chegavam, dessa
forma, quase a substituir a falta de atividades dos próprios clubes” E
concluímos, mais a frente : “ ou vocês “maneram”, usando uma frase do
cotidiano, diminuem o ritmo de trabalho, o que será lamentável para nossas
comunidades, ou vamos ter que descobrir uma fórmula mágica para aumentar a
produtividade dos clubes”.
Mas, vamos ao ponto central!
Até 1989,
tanto o Regimento Interno como os Estatutos do Rotary International previam que
apenas homens poderiam ser sócios de um Rotary Club. Em 1978, o Rotary Club de
Duarte,na Califórnia, EUA, convidou três mulheres a se associarem à
organização. O Conselho Diretor do RI cancelou, então, o Diploma de Admissão do
clube por violação á letra do Regimento Interno do RI. O clube acionou o RI com
base na violação pelo RI das leis civis estaduais que proíbem qualquer forma de
discriminação em estabelecimentos comerciais ou organizações. O Tribunal de
Apelações e a Suprema Corte do Estado da Califórnia ratificaram a decisão
tomada pelo tribunal inferior apoiando a posição do clube de Duarte de que o
Rotary não tinha o direito de cancelar a associação de um clube pelo fato do
mesmo ter admitido mulheres no seu quadro social. A Suprema Corte do Estados
Unidos ratificou a decisão adotada pela corte californiana. Esta decisão de
1987 permitiu que mulheres passassem a ser admitidas como sócias em toda e
qualquer jurisdição que tivesse leis de "acomodações públicas"
semelhantes.
A alteração do regimento Interno foi
efetuada pelo Conselho de Legislação em 1989, que votou pela eliminação da
posição até então adotada de que todo Rotary deveria ser uma organização
"exclusivamente masculina".
Atualmente as mulheres respondem por
cerca de 8% do quadro social do Rotary no mundo e ocupam cargos diversos junto
aos clubes e distritos. No ano rotário de 1997-98 Rotary registrou a
participação de 14 mulheres como governadoras de distrito. No Brasil, a
primeira governadora assumiu o Distrito 4570 (Rio de Janeiro) no ano rotário de
1998-99, ao lado de outras 19. Neste ano rotário temos uma governadora no
Distrito 4730 (Paraná) e no próximo, ao lado do Governador Sogayar, já serão
duas, Distritos 4770 (Minas Gerais) e 4780 (Rio Grande do Sul).
Nos nossos clubes, companheiras já
ocuparam ou ocupam o cargo de presidentes nos Rotary Clubs de Botucatu-Bons
Ares, Piracicaba-Luiz de Queiroz, Piracicaba-São Dimas, Itu-Convenção e
Cabreúva.
No nosso Distrito 15 clubes possuem
mulheres nos seus quadros sociais. São eles: Agudos(1), Americana(1),
Botucatu-Bons Ares(9), Cabreúva(3), Cerquilho(1), Hortolândia(2),
Itu-Convenção(6), Itupeva(6), Piracicaba-Cidade Alta(3), Piracicaba-Luiz de
Queiroz(10), Piracicaba-São Dimas(2), Santa Bárbara D’Oeste(2), Sumaré-Ação(3),
Sumaré-Norte(6) e Tietê(1). São 56 companheiras representando cerca de 5% dos
companheiros do Distrito 4310.
Para
concluir, considero extemporânea e fora de cogitação qualquer posição a favor
ou contra a admissão da mulher no Rotary. O fato é irreversível. O nosso
estatuto atualizado diz no seu Artigo V, Seção 3 - Composição dos clubes.
(a) Um clube deverá ser integrado por
pessoas adultas, possuidoras de caráter ilibado e de boa reputação comercial e
ou profissional, etc, etc... “
Isso
significa que parecerá tão estranho se estabelecer que dado clube não admitirá
mulher, apesar do direito estatutariamente assegurado, como não admitir, por
qualquer motivo determinado tipo de profissional ou determinada classe de
homens de negócios.
Pela
amostragem a nível distrital e de clubes todos reconhecemos a importância da participação feminina no
movimento rotário além das fronteiras das Casas da Amizade e Associações. É uma
importante abertura defendida por Rotary Internacional para reverter, entre
outras coisas, a sombria tendência de redução de nossos quadros sociais.
(Março de 2000)